O seu real significado não tem nada a ver com aquilo que a maioria das pessoas "informadas" pensam... Tanto é que existe até um santo canonizado com o nome de... Lúcifer!
Mas antes de falarmos sobre o santo, você sabia que Jesus Cristo era também chamado de "lúcifer" pelos antigos cristãos?
¡ Jesus Cristo como "lúcifer" !
A palavra lúcifer é composta por duas outras: “lux” e o verbo “ferre”.
lux = luz
ferre = portar, carregar, trazer
lúcifer = o que traz luz
“Lúcifer” é a estrela da manhã que anuncia o Sol. Os antigos cristãos faziam hinos chamando Jesus de “lúcifer”, como aquele que dissipa as trevas e ilumina tudo com a luz da verdade. Isso explica porque, em vários hinos antigos, muitos deles presentes na Liturgia das Horas em latim, há exaltações a Cristo chamando-o de “lúcifer”, assim, com letra minúscula, um adjetivo. Vemos isso, aliás, na Bíblia, neste trecho da II Epístola de São Pedro, na Vulgata:
"Et habemus firmiorem propheticum sermonem, cui bene facitis attendentes quasi lucernae lucenti in caliginoso loco, donec dies illucescat, et lucifer oriatur in cordibus vestris (Epistula II Petri 1, 19)"
Veja que o último trecho é: “et lucifer oriatur in cordibus vestris”, ou seja, “até que ‘lúcifer’ (aquele que traz a luz, ou seja, Jesus) nasça em vossos corações”. Imagine se São Pedro ia querer que o demônio nascesse no coração de alguém!?
Tanto é verdade que, nos primeiros séculos do cristianismo, o termo não tinha nada a ver com demônio, que alguns cristãos eram inclusive batizados com esse nome – como São Lúcifer de Cagliari (século IV) – em uma homenagem a Jesus, já que não ousavam utilizar o próprio nome do Filho de Deus. Mais ou menos como até recentemente no Brasil, quando os pais, por reverência, não chamavam seus filhos de Jesus, mas de “Jésus”.
Acontece que, por causa de um trecho de Isaías na Vulgata Latina – mais precisamente Isaías 14, 12, que cita a “estrela da manhã” que caiu do céu e foi parar no inferno – os teólogos passaram a chamar de Lúcifer o príncipe dos demônios, antigo anjo de luz, e a coisa ficou assim, pelo menos no ocidente.
A partir de então, chamar Jesus de “lúcifer” passou a ser meio, digamos, constrangedor. O costume se perdeu com o surgimento das línguas modernas, em que a palavra “lúcifer” existe quase que somente como nome próprio – “Lúcifer”, assim, com maiúscula.
Triste coincidência não acha? E a igreja não tem culpa de nada. Mas onde entra o São Lúcifer? Vamos contar agora.
¡ São Lúcifer !
Lúcifer Calaritano (m. 370 ou 371) foi um bispo de Cagliari na Sardenha e é um santo cristão conhecido, sobretudo, pelo sua oposição ao arianismo. No Concílio de Milão em 354 defendeu Atanásio de Alexandria e se opôs a arianos poderosos, o que fez o imperador Constantino II, simpatizante dos arianos, confiná-lo por três dias no palácio.
Durante seu confinamento o bispo debateu tanto com o imperador que acabou sendo banido, primeiro para a Palestina depois para Tebas, Egito. No exílio escreveu duras cartas ao imperador, que o pôs sob o risco de martírio.
Após a morte de Constantino e a ascensão de Juliano, Lúcifer foi solto em 362, mas infelizmente não pôde reconciliar com os antigos arianos. Ele consagrou o bispo Paulino, sem licença, criando assim um cisma. Possivelmente foi excomungado. Nos dá uma pista disso os escritos de Santo Ambrósio, Santo Agostinho e São Jerônimo, que referem-se a seus seguidores como luciferianos, uma divisão que surgiu no início do século V. Jerônimo em seu ALTERCATIO LUCIFERIANI ET ORTHODOXI (Altercação entre Luciferianos e Ortodoxos) demonstra quase tudo que se sabe sobre Lúcifer e suas idéias. Inclui-se entre os principais escritos do bispo de Cagliari: DE NON CONVENIENDO CUM HAERETICIS, DE REGIBUS APOSTATICIS, e DE S. ATANASIO.
Sua festa, no calendário da Igreja Católica é dia 20 de maio. Seu nome demonstra que Lúcifer não era, pelo menos no século IV, apenas um sinônimo para Satã. Todavia, com os movimentos a partir do século XIX houve certa confusão, dando a entender que luciferianos (diferentemente do sentindo teológico que é apresentado aqui) fossem satanistas. É de se observar que isso não faz com que seu culto seja suprimido ou sua canonização reavaliada. Muito embora ele não seja muito citado para evitar mal-entendidos e escândalos.
Uma capela na Catedral de Caligliari é dedicada a São Lúcifer (talvez a única no mundo). Maria Josefina Luísa de Savóia, rainha consorte, esposa de Luís XVIII de França está enterrada lá.
São Lúcifer, no Concílio de Milão (354), defendeu violentamente Santo Atanásio de Alexandria e suas ideias, ao ponto de ser também exilado pelo imperador Constâncio II, que havia aderido à doutrina ariana. Juntamente com o bispo, outro santo foi exilado, Eusébio de Vercelli, defensor da plena divindade de Cristo. Escreveu obras contrárias às heresias, sempre criticando duramente o arianismo, de modo que, seus seguidores eram chamados luciferianos, que posteriormente foram liderados por São Gregório de Elvira. A seu respeito, escreveu São Jerônimo na Altercatio Luciferiani Et Orthodoxi.
Igreja dedicada a São Lúcifer de Cagliari, na Sardenha. |
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